Eu desejava aquilo para mim. Queria ser tão real, inexistente e inesquecível como todos aqueles. Por isso acho que passava tanto tempo lá, tocando aquelas histórias... Tentando absorver como uma pequena esponja parasita tudo o que aquela sinceridade anestesiante tinha para me oferecer — tentando ser um deles...
De certo modo, eu me tornei um pouco mais real, e, por esse mesmo motivo, me forço a cuspir que, realmente, me assemelhei a um deles por alguns momentos. Eu consegui mentir de modo tão real que a farsa embaraçou todos os fios de minha cabeça, e, assim, tornou-se uma verdade. Uma verdade inverossímil. Mas, ainda assim, uma verdade. Não é uma coisa que, agora, pensando bem, posso me vangloriar, mas eu conseguia criar histórias instantâneas tão bem que elas se juntavam como um pequeno bolo. Minhas biografias.
Um dia qualquer, sentada na mesma representação de mim ― a poltrona, digo ―, me flagrei a observar os livros, carinhosamente, um por um. Notei que, na estante, havia um espaço vazio. Sorri e convenci-me que ali era meu lugar. Lugar das minhas obras, meus acontecimentos... Minhas mentiras. De repente, um vento me empurrou e deixou tudo mais escuro ― mais tarde, mais claro. E então todas as minhas autobiografias falsas se desmancharam e riram de mim como, quase que literalmente, um filho que rejeita seu próprio pai. Meu intuito impulsivo foi de chorar. Mas refleti uns instantes e apenas mordi o lábio, com uma ardência irritante na garganta. Mas na verdade, eu chorei. Chorei uma pequena lágrima vermelha ― que clichê ― que escorreu do meu lábio inferior.
Hoje eu sei que tenho esperança. Na seção de ficção científica, talvez. Eu deveria tentar a de auto-ajuda. “Como ser tão real ao ponto de se iludir, mentindo”. Talvez eu conseguisse alguma coisa. Fama, dinheiro. E aí, depois, poderia escrever detalhadamente como foi que consegui aquilo. Vocês sabem... Uma biografia.
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