quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Apenas treze.

- Você sabe.
- Sim, eu sei!
- Não estou duvidando.
- Está sendo irônico.
- Não, imagine.
- De novo.
- Você duvida demais. Deveria confiar mais em mim. Eu sou tão real...
- Viu? Você precisa de ironia pra respirar.
- E você precisa de mim pra respirar! Sabe qual a diferença? Eu posso ter a ironia.
- Ótimo.
- E essa foi a única vez que eu fui irônico nessa conversa.
- Sério?
- Não. Você deveria me ligar mais, para conhecer meus tons de voz. Meu rosto é sempre lindo desse jeito.
- Ótimo. Ironia, café e ser um canalha. Quais seus outros vícios?
- Magoar.
- Magoar a si mesmo.
- Não, não. Não sou esperto a esse ponto.
- Parece que é. 
- Não, essa é você. Eu sou quente desse jeito mesmo.
- Ironia, novamente. Deve ter algum trauma com o calor, então!
- É...
- Nossa, você realmente me respondeu.
- Sempre te respondo.
- Respondeu de verdade.
- Só porque não é a resposta que você quer, não quer dizer que é falsa. Você deveria ir escrever um livro, se quer todos os personagens da sua história a seu modo.
- Ai. Doeu. 
- Quer aspirina?
- Não. Por que faz isso comigo?
- Porque sou masoquista.
- Não seria sádico?
- Não, não, eu sou masoquista.
- Quer dizer que me ama? Só sofremos quando os outros sofrem quando os amamos.
- Eu não me lembro de negar isso...
- Então ama.
-... Muito menos de confirmar.
- Por que veste essa máscara sempre?
- É pra me proteger do frio que eu sou.
- Sua mão está quente.
- É porque eu aprendi a me esquentar.
- Ninguém se esquenta sozinho.
- Bom, sempre há uma primeira vez. Quando será a sua?
- Não sou virgem.
- Não disse que era. Sua primeira vez de esquentar-se.
- Eu sou quente.
- Você que pensa. Você é mais fria que eu.
- Não!
- É sim. 
- Por que seria?
- Precisa de outros pra manter-se quente. Isso é tão frio quanto não precisar do calor.
- Não preciso de ninguém!
- Por que está aqui, então?
- Porque eu te amo.
- Não ama. Você mesmo disse que só te machuco. Ninguém ama o que machuca. Você retira de minha frieza seu calor por ser melhor que isso. Não negue. Você precisa. Não gosta.
- Ok, café, ironia, ser um canalha, magoar e mentir.
- Pelo menos eu não minto a mim mesmo.
- Mente sim.
- Não. Você que pensa. Nunca neguei que não prestava. Apenas não grito isso, sabe? Eu tenho que me aproveitar desse corpinho que Deus me deu.
- Achei que era ateu.
Ele riu.
- Eu sou. Precisa aprender a pegar minhas ironias.
- Se você me der uma brecha para eu ver quando você não está sendo irônico, talvez.
- Sete das frases que eu disse nessa conversa são extremamente reais. Sem um pingo de distorção.
- Você contou?
- Não preciso, me lembro de tudo que importa. Tenho memória fotográfica.
- Qual o nome do meio de minha mãe, então?
- Sua mãe já morreu para mim.
- E daí? Ela continua tendo um nome do meio e eu já lhe disse qual é.
- Eu me lembro de tudo que importa, e se tem uma única coisa que eu me importo menos do que com os vivos, são os mortos.
- E por que não se importa com eles?
- E eles lá se importam comigo? Não perco meu tempo com isso.
- Eu me importo com você.
- Tanto que não notou até agora que meu braço esquerdo está sangrando.
- DEUS! Você precisa colocar um curativo agora.
- Não sou Deus. E não preciso.
- Deve estar doendo.
- Está.
- Vou fazer parar.
- Não me passe germes. Não toque em mim.
- É mesmo masoquista?
- Sim. Foi uma das nove frases reais dessa conversa.
- Não eram sete?
- Com essa, são dez.
- Dez?
- Sim, dez. E vai parar por aí.
- Por quê?
-...
- Não precisamos de um motivo para tudo, ora!
- Mas você tem um motivo.
- Não tenho.
- Tem sim. Se não teria dito isso de começo. Ficou calado porque pensava se me contaria ou não.
- Não é verdade.
- Achei que você não mentisse.
- Não minto.
Ela ergueu as sobrancelhas.
- Confesse.
- Certo. Eu tenho um motivo.
- E qual seria?
- Você está pedindo demais!
- Não estou. Pedir demais seria pedir um beijo seu.

- Não, isso seria de menos. Eu beijo várias pessoas.
- E não beijou até agora?!
Ele riu de modo egoísta. Completou:
- Você quer um beijo meu.
- Não quero!
- Quer sim, Natasha.
Ela bufou.
- Está bem, eu quero.
- Certo.
-...
-...
-...
-...
- Voltando ao assunto... Vai me contar ou não o motivo?
- Tudo bem, srta. que quer um beijo meu, eu conto.
-...
- Na verdade, quase todas minhas conversas têm treze verdades. Mas são em ordem de impacto, então as três que viriam agora seriam mais importantes e reais que qualquer coisa que eu já lhe disse nessa conversa. Então prefiro ficar calado.
- Meu Deus, você planeja tudo isso?! É no mínimo doente.
- Sim, porque eu sou doente, querid... Natasha. É por isso que me ama.
- Não é exatamente por isso. Mas eu te amo sim.
Ele mordeu os lábios.
- Então, Michael, vai me contar quais seriam as três verdades?
- Só se você me disser três antes.
- Ok. Eu amo o jeito que seu cabelo cai nos olhos, estou tendo calafrios com esse braço aí que não para de sangrar porque não agüento ver você sofrendo e eu sou completamente possessiva quando se trata de você.
- Uau. As minhas: eu ame... gostei de você desde o dia em que você me empurrou do balanço, na pré-escola. E eu realmente gostaria que você chegasse mais perto.
- Foram somente duas.
- Você ainda quer aquele meu beijo?
- Sim.
- Então essa é minha terceira: eu lhe daria muitos se você quisesse.
- Eu quero. Demais.
Ele olhou para baixo.
- Só beijo meninas com quem eu tenho compromisso.
- Disse aquilo só para me provocar, então? Ah, Mich...
- Não! Foi um convite.
Ela se inclinou em sua direção e ele se levantou rapidamente, se afastando. Ela olhou-lhe confusa, pedindo uma explicação.
- Desculpe, foi a minha décima quarta verdade na conversa e eu preciso manter a média.
Ele correu, segurando o braço que ainda sangrava e deixou uma ruiva com um olhar muito curioso. Bem, já era um avanço... Quem sabe em mais treze ou vinte e seis verdades ela não conseguia uma proposta oficial?

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